É época de São João, quando o Nordeste se torna mágico. As festas juninas por aqui têm o sabor das festas natalinas em outras regiões do país. Época de comer, brincar de quadrilhas e forró, celebrar, reencontrar a família, experimentar a gratuidade da vida.
Em segundo, poucos dias atrás, tivemos na Câmara Nacional de Outorga de Recursos Hídricos, uma oficina para construir os critérios de outorga - licença para uso - das águas dos rios intermitentes do Nordeste. Tive a honra de participar como representante da sociedade civil entre mais de cinqüenta técnicos do governo. Nossa conclusão foi unívoca: "esses rios são importantes, mesmo que as águas passem por eles apenas uma semana no ano. Esses rios só podem receber outorga para usar a água para consumo humano e animal, jamais para lançamento de efluentes - todo tipo de esgoto -, pois não tem massa hídrica para diluir os efluentes durante o resto do ano". Portanto, mesmo que intermitentes, as águas desses rios serão utilizada pelas populações durante o resto do ano, quando elas ficam armazenadas em açudes, barragens ou pequenos barreiros. Hoje as armazenamos também em cisternas para beber e produzir. Acontece que, em anos de chuvas muito intensas, muitas dessas barragens se rompem, intensificando os desastres que acontecem à jusante.
Terceiro, cito o especialista em clima Phillips Fearnside, americano que vive na Amazônia. Em evento promovido pela CNBB sobre as Mudanças Climáticas, ele nos apresentou dezoito possíveis cenários para o Nordeste. A maioria falava de aumento das temperaturas e dos períodos de estiagem. Entretanto, um deles falava em chuvas diluvianas para o Nordeste. Por ser o único a projetar esse cenário, foi eliminado.
Minha opinião - embora eu não seja técnico, mas vivo aqui e vejo a mudança empiricamente - é que deveria ser mantido. Com o aquecimento do Atlântico grandes volumes de água estão se evaporando, caminhando para o continente, estacionando sobre o Nordeste e produzindo chuvas incalculáveis, como os 230 milímetros em uma chuva em Uauá, sertão da Bahia, ou os 400 milímetros em três dias como essas chuvas sobre Alagoas e Pernambuco. Lembremo-nos ainda das chuvas torrenciais em 2008 sobre Piauí, Ceará e Maranhão. Portanto, os tais fenômenos extremos que nos falam os estudiosos do clima estão realmente já acontecendo.
Somemos esses fatores e teremos um pouco do entendimento do novo Nordeste e da tragédia pernambucoalagoana.
Este ano ficou diferente. O Nordeste ficou de luto pelas cidades arrasadas pelas águas em Pernambuco e Alagoas. Algumas pessoas me escreveram perguntando: como se explica o que está acontecendo?
Dou três fatores para entendermos um pouco o que acontece.
Primeiro, a ilusão alimentada pela indústria da seca que "no Nordeste não chove". Terrível inverdade. Poucos sabem que o açude Castanhão, no Ceará, com capacidade de armazenar quase sete bilhões de metros cúbicos de água, foi construído exatamente para aliviar as enchentes diluvianas dos rios Salgado e Jaguaribe. A música "Súplica Cearense", quando um sertanejo implora a Deus para parar de chover, feita ainda em meados do século passado, ilustra essa dimensão pouco realçada do Nordeste.Dou três fatores para entendermos um pouco o que acontece.
Em segundo, poucos dias atrás, tivemos na Câmara Nacional de Outorga de Recursos Hídricos, uma oficina para construir os critérios de outorga - licença para uso - das águas dos rios intermitentes do Nordeste. Tive a honra de participar como representante da sociedade civil entre mais de cinqüenta técnicos do governo. Nossa conclusão foi unívoca: "esses rios são importantes, mesmo que as águas passem por eles apenas uma semana no ano. Esses rios só podem receber outorga para usar a água para consumo humano e animal, jamais para lançamento de efluentes - todo tipo de esgoto -, pois não tem massa hídrica para diluir os efluentes durante o resto do ano". Portanto, mesmo que intermitentes, as águas desses rios serão utilizada pelas populações durante o resto do ano, quando elas ficam armazenadas em açudes, barragens ou pequenos barreiros. Hoje as armazenamos também em cisternas para beber e produzir. Acontece que, em anos de chuvas muito intensas, muitas dessas barragens se rompem, intensificando os desastres que acontecem à jusante.
Terceiro, cito o especialista em clima Phillips Fearnside, americano que vive na Amazônia. Em evento promovido pela CNBB sobre as Mudanças Climáticas, ele nos apresentou dezoito possíveis cenários para o Nordeste. A maioria falava de aumento das temperaturas e dos períodos de estiagem. Entretanto, um deles falava em chuvas diluvianas para o Nordeste. Por ser o único a projetar esse cenário, foi eliminado.
Minha opinião - embora eu não seja técnico, mas vivo aqui e vejo a mudança empiricamente - é que deveria ser mantido. Com o aquecimento do Atlântico grandes volumes de água estão se evaporando, caminhando para o continente, estacionando sobre o Nordeste e produzindo chuvas incalculáveis, como os 230 milímetros em uma chuva em Uauá, sertão da Bahia, ou os 400 milímetros em três dias como essas chuvas sobre Alagoas e Pernambuco. Lembremo-nos ainda das chuvas torrenciais em 2008 sobre Piauí, Ceará e Maranhão. Portanto, os tais fenômenos extremos que nos falam os estudiosos do clima estão realmente já acontecendo.
Somemos esses fatores e teremos um pouco do entendimento do novo Nordeste e da tragédia pernambucoalagoana.
Roberto Malvezzi (Gogó) é agente Pastoral da Comissão Pastoral da Terra - CPT.
FONTE:CEBsuai