
Ampliando a nossa reflexão, ultrapassando os limites de Camocim, como tem sido a evangelização em sua paróquia ou comunidade? Que Cristo temos anunciado? Um Jesus Cristo distante da nossa realidade, desencarnado da vida e da problemática humana ou um Cristo libertador, que desafiou todo a estrutura sociopolítica de sua época e nos ensinou a fazer o mesmo?
A evangelização autêntica é aquela que promove o ser humano em todas as suas dimensões, fazendo dele uma célula viva do Reino de Deus no seio da comunidade. Uma vez evangelizado, o cristão precisa irradiar ao seu redor os autênticos valores da vida cristã, hoje tão esquecidos pela sociedade. Ele, através de sua postura e da sua visão de mundo, faz a grande diferença nas discussões e nos debates da vida cotidiana, porque questiona, não se conforma com essa cultura de morte que fere profundamente a dignidade humana. O cristão, que é fruto de uma evangelização transformadora, é um homem novo, profético, consciente de sua fé e portanto, alguém que consegue "ainda" se sensibilizar diante da miséria e da pobreza, que ceifam tantas vidas. Trata-se de alguém que, não reduz o seu cristianismo a uma missa dominical ou a uma prática devocional, mas faz de sua vida também, uma grande celebração eucarística, festim divino nos altares da vida.
A evangelização desenvolve também a nossa cidadania. Por que será que a maioria de nossos pastores não discute essa temática em suas pregações e homilias? A Igreja, em seus documentos e encíclicas, faz um constante apelo pela inserção do leigo/a no mundo da economia, política, cultura e sociedade, como espaços privilegiados de ação evangelizadora. Será que estamos cumprindo essas diretrizes? Como vai a articulação, a nível diocesano, dos grandes eventos anuais propostos pela CNBB, nesta linha sociotransformadora, tais como: Semana da Cidadania, Grito dos Excluídos, Semana da Solidariedade, Romarias, Fóruns Sociais, Campanhas de iniciativa popular etc? E o que é pior, que apoio tem sido dado as pastorais e movimentos que trabalham nessa linha? Por exemplo, que motivação tem-se dado as CEB's?
A opção pelo povo e pelos pobres é o lugar social natural dos cristãos. Quando pensamos no aumento gradativo da miséria e da exclusão social, no tráfico de drogas em nossas cidades, na grilagem de terras, nos índices alarmantes de violência além de outros problemas atuais, nos questionamos sobre a inércia de algumas igrejas e instituições. Será que acreditamos de fato na proposta de Jesus, que supera toda forma de injustiça e exclusão? É preciso ter um "coração pascal", que acredita na validade permanente da utopia, na certeza de que o "Reino"sempre avança, apesar da incredulidade de muitos.
Ainda existem profetas hoje e eu particularmente os admiro! Pena que algumas de nossas lideranças, não conseguem vê-los com os mesmos olhos e não descobriram o verdadeiro sentido da evangelização.
CÉSAR AUGUSTO ROCHA
Fonte: http://cdltiangua.blogspot.com/