terça-feira, 3 de novembro de 2009

CARTA – COMPROMISSO DAS CEBs DA ARQUIDIOCESE DE FORTALEZA AO ENCERRAR SEU 1º FÓRUM ECOLÓGICO SOCIAl

Nós, participantes do 1º Fórum Ecológico-Social das CEBs da Arquidiocese, que representamos as comunidades das regiões episcopais da Serra e as Metropolitanas I, II e III, reafirmamos a centralidade que têm os pobres e injustiçados da sociedade para a nossa maneira de viver a prática de Jesus e a melhor tradição da Igreja. Declaramo-nos igualmente sensibilizados/as pelo grito da Terra que escutamos no 12º Encontro Intereclesial de Porto Velho e que está encontrando ecos fortes na realidade do nosso Ceará.
Realimentamos nossa disposição para transformar as estruturas injustas na sociedade e na Igreja, celebrando o 30º aniversário de martírio de Santo Dias da Silva, metalúrgico, sindicalista e membro da Pastoral Operária. Aos que nos acusam de vivermos no passado, queremos dizer que muitas figuras cristãs combativas e corajosas de épocas passadas continuam sendo guias luminosos em nossas lutas presentes. A memória dos crucificados e perseguidos por causa da justiça sempre há de encontrar fervorosa acolhida no meio das CEBs.
Reconhecemos a necessidade de nossas comunidades se assumirem, doravante, não apenas como eclesiais, mas também como ecológicas de base: percebemos que o ser humano, na tradição da Palavra de Deus, é chamado a ser um “jardineiro”, um(a) cuidador (a) do mundo criado por Deus. O nosso dia de estudo nos fez ver que a lógica capitalista, de que somos vítimas, se utiliza da escassez dos recursos naturais para transformá-los em mercadoria vendável e, portanto, privativos de apenas alguns. Isto contraria claramente o projeto de Deus e de Jesus: vida plena para todos. É preciso despedir-se do mito perigoso de um crescimento ilimitado da economia e do consumo. Vemos necessidade das classes abastadas da sociedade reduzirem o seu nível de consumo, oneroso para a vida de todo o planeta.
As CEBs devem ser núcleos de conscientização ecológico-social e de conversão de hábitos e atitudes pessoais em meio à população de bairros e paróquias: exigências como coleta seletiva do lixo doméstico, despoluição de rios, riachos e lagoas, implantação de ciclovias nas avenidas, cultivo de plantas medicinais, arborização e conservação de praças, canteiros e calçadas, oficinas de aproveitamento de lixo reciclável – para citar apenas alguns exemplos – precisam ser assumidas e defendidas por nós em público. Recomendamos que cada região crie uma equipe itinerante de conscientização sócio-ecológica que possa visitar escolas e associações e sensibilizar, sobretudo, a juventude para o desafio de uma cultura alternativa ou “contra-cultura”.
Sabemos que “palavras convencem, mas exemplos arrastam”. Por isso, decidimos por duas campanhas concretas que as Comunidades Eclesiais de Base, em todo o território da Arquidiocese, devem encabeçar e que assinalarão publicamente o novo referencial ecológico-social que as CEBs assumem para si:

1. Uma campanha ampla, junto a toda a população, pela redução da taxa de esgoto, cobrada na conta da água pela CAGECE: A coordenação arquidiocesana apresentará a formulação unificada de uma petição, seguida por um abaixo-assinado, que será enviada a todas as comunidades para um trabalho corpo-a-corpo. A meta será o recolhimento de algumas milhares de assinaturas, a serem, em seguida, encaminhadas ao órgão estadual competente, sob os olhos da imprensa. Estamos convencidos de que só a redução radical da exorbitante taxa de esgoto fará com que as famílias mais pobres do nosso Estado possam aceitar a ligação de suas casas à rede de esgoto como algo desejável e benéfico.

2. Uma campanha ampla, junto à população dos bairros de periferia, de plantação de mudas de árvores, acompanhada de um processo de sensibilização: A coordenação arquidiocesana encaminhará um pedido à Prefeitura Municipal de Fortaleza de concessão de grande número de mudas, a serem distribuídas às comunidades e plantadas, em comum acordo com os moradores adjacentes, em lugares públicos e/ou comunitários. A campanha visa mais do que o aumento da arborização em nossas cidades: pretende mobilizar as CEBs numa ação concreta pelo bem comum e ainda comprometê-las com os cuidados contínuos pela “semente” colocada.

Queremos seguir, com estes propósitos, as pegadas de São Francisco de Assis que, há muitos séculos e bem a frente do seu tempo, já abraçava estas duas prioridades de todo bom cristão: os pobres e a natureza. Dedicando-nos com fervor e entusiasmo à defesa e promoção destas duas prioridades, pretendemos entoar, como Francisco, ao Deus da Vida uma nova canção.

Que Deus nos abençoe e dê longa vida às comunidades! Amém! Axé! Aleluia!



Fortaleza, 01 de novembro de 2009, na Festa de Todos-os-Santos