"O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem.
O Deus quer é ver a gente aprendendo a ser capaz de ficar alegre a mais, no meio da alegria, e mais alegre ainda no meio da tristeza!
Só assim, de repente, na horinha em que se quer, de propósito, por coragem".
Com estas palavras, o velho jagunço Riobaldo, personagem de Guimarães Rosa, se expressa sobre Deus e a vida de um modo muito diferente do jeito como tantas vezes nos falaram de Deus. O mais comum eram nos mostrarem santos com cara de sofrimento e Deus como juiz sério e sisudo. Houve quem escrevesse que os evangelhos mostram Jesus chorando, mas nunca dizem que ele riu. Umberto Eco, em O nome da rosa, fala do monge medieval que chegava a matar irmãos para que ninguém descobrisse o tratado de Aristóteles sobre a alegria. Hoje em dia, isso parece coisa do passado. Cada vez mais as pessoas concordam que Deus quer ver a gente alegre. Mas nem sempre tiramos disso todas as consequências.
Para José Comblin, que agora vive a páscoa em plenitude, o maior acontecimento teológico do Século XX para o cristianismo foi a redescoberta da centralidade da ressurreição de Jesus Cristo.
Ler e interpretar a vida e a fé a partir do mistério pascal possibilitaram a renovação das igrejas e teve consequências concretas, como a valorização da vivência comunitária da fé, a realização do Concílio Vaticano II nos moldes como ele se deu, o movimento ecumênico e a caminhada latinoamericana das igrejas cristãs a serviço do povo sofrido, em busca de sua promoção e libertação. De uma compreensão mais profunda do mistério pascal desenvolveu-se a rica renovação liturgia em sua teologia e em suas expressões. Aprendemos com o povo a fazer festa. E mais: fazer das celebrações uma festa. Para o povo sofrido, fazer festa é uma questão de sobrevivência.
Um depoimento popular enfatiza bem esta questão.
Na verdade, do ponto de vista do povo do santo, sem festa o mundo não sobrevive. Perde o alimento de sua origem, a graça que a presença divina lhe dá. Mundo sem festa é um mundo imundo. Mas, quando festejamos, a vida o aviventa.
Em Morte e Vida Severina, João Cabral de Melo Neto conta a história de um retirante que sai do sertão para tentar a vida na cidade. Começa com cenas de morte, terra seca, gente cantando incelênçias em velórios de indigente e termina com uma criança nascendo numa favela do Recife. Apesar da penúria, a nova vida é recebida como uma vitória da esperança.
É como diz o Menino Maluquinho do Ziraldo: Olha, se não deu tudo certo até agora, é porque ainda não acabou!
Mais do que nunca a vida está nos reclamando esta explosão de alegria. É necessário muita coragem para sermos alegres no meio da dura realidade em que nos encontramos. Como diz um ditado chinês: É duro caminhar olhando as estrelas quando se tem uma pedra no sapato! Mas é justamente aí que está o segredo da vida guardado com sete chaves: viver a compaixão, a misericórdia e a alegria não no depois, no adiante, mas no agora, na horinha que se quer, de propósito.
Ainda com os orientais aprendemos que nem todos os caminhos levam ao coração. Que a o celebrarmos a festa da páscoa da ressurreição de Jesus descubramos com Ele, n’Ele a partir d’Ele, quais caminhos hoje precisamos trilhar para chegar ao coração da humanidade. Feliz Páscoa !
Pe. Nelito Dorneles
Assessor do Secretariado do 13º Intereclesial
Nota enviada pelo email de José Batista - batistacebs@gmail.com