domingo, 17 de abril de 2011

A INSUSTENTÁVEL FÉ DOMESTICADA

Ainda podemos contar com uma pequena porção de agentes de pastoral que desafiam as leis da branda impostora e imposta fé, contestando a qualidade e o preço do produto barato, que já faz algum tempo que vem sendo comercializado nas prateleiras ideológicas dos luxuosos e regalados teólogos adeptos da subserviência e do conforto indiscreto e incoerente. É neste contexto, que vejo o desmantelo em que o povo é atraído e traído, pois transitam livremente pelos largos e confortáveis corredores deste produto “Fé”, sem terem a oportunidade de conhecer as verdades sobre o Reino de Jesus e os legítimos caminhos a serem percorridos pelo discipulado.

São muitas as palavras com falsas razões, e aqui, o meu raciocínio me leva a decifrar que, muitas palavras melosas nos dias atuais, são para muitos, ações concretas, objetos da Fé, cujo sentido confesso que já tentei entender, mas, o sopro do Espírito Santo ainda não me permitiu tal compreensão.

É justamente porque ainda não compreendi nada que, me vem a cabeça e ao coração as velhas perguntas de sempre: Até quando vamos aceitar a hipocrisia correndo em nosso meio como esgoto a céu aberto? Por que será que nos falta a coragem de denunciar a esperteza com a qual manipulam o Evangelho de Jesus Cristo, jogando para os pobres a ideia de que o inferno é a consequência direta dos que não aderirem a uma tal conversão convencional, padronizada, instituída e ploriferada na base da mentira? E por que será que não nos indignamos a ponto de denunciar o tratamento desumano que os ricos empresários e comerciantes usam com seus funcionários, negando-lhe os direitos trabalhistas, tratando-os de forma desonrosa e injusta? Aqueles ricos que ocupam os primeiros assentos nos bancos da igreja nos cultos dominicais e que em tempo de festa de padroeiros dão boas gorjetas para ajudar o Santo e na evangelização, como se isso fosse prática vinda do Evangelho e dinheiro obtido com dignidade, fruto de trabalho honroso.

Muitos líderes de pastorais também falam das dificuldades de evangelizar, mas, estas supostas dificuldades se referem explicitamente aos obstáculos de se atrair seguidores para o culto. Este momento, em muitas situações, acaba se tornando uma ocasião de julgamento e condenação sumária para os que não aceitaram o convite. É preciso ser luz que ilumina os caminhos e não holofotes que encandeiam e cegam a comunidade.

Na tentativa de compreender o que é claro, óbvio e concernente da fé comercializada, os poucos agentes de pastoral (legítimos) acabam se tornando insuportáveis e indiferentes pro governo religioso, por não concordarem com os padrões estabelecidos que burocratizam a fé e aprisionam os fiéis como se fossem animais domésticos, adestrados, atentos às ordens de seu dono. É assim que vejo a militância de muitos que se dizem seguidores de Jesus Cristo, e é desta forma que escuto os gritos ensurdecedores que proclamam uma vida nova, fazendo um apelo para que se concorde cegamente com este atual modelo que enaltece um vaidoso projeto dinâmico e ascendente, embasado na ideia de um “tal pluralismo religioso”.

Este modelo vigente que aí está, não pode ser alvo de críticas porque logo escutam-se as lamentações: “É por causa de Jesus que somos perseguidos!” “Jesus disse que íamos ser perseguidos por causa de sua Palavra”, é esta a fantasia vivida prontamente pelos seguidores de Jesus. Eu, particularmente, penso que esta “fantasia” é vergonhosa e sem razão de existir, e penso também que isto não é obra do Espírito Santo, mas sim preguiça mesmo, algo que foi gerado por uma leitura superficial do Evangelho, uma justificativa para a covardia de muitos.

Este pode não ser o retrato de muitas paróquias ou pastorais, mas, com toda certeza é uma situação predominante que se alastra como uma praga.

Carlos Jardel 
Leigo menbro da Articulação Diocesana das CEBs de Tianguá