segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

ENTREVISTA COM DOM MANOEL EDIMILSON DA CRUZ

"Votar em corrupto é votar na morte"
Bispo que rejeitou homenagem do Congresso lidera movimento para atrelar o
reajuste dos parlamentares ao aumento do salário mínimo

INDIGNAÇÃO
Dom Edmilson diz que o brasileiro já
não suporta tanto desrespeito


Os políticos costumam ser generosos quando seus salários são o assunto. Não há crise ou urgência de corte de gastos públicos que os constranjam.
Invariavelmente, eles reajustam seus ganhos bem acima do patamar conseguido a
duras penas pelos trabalhadores brasileiros. O último aumento auto-concedido
pelos congressistas foi de nada menos que 61%, o que, considerando salários e
benefícios, elevou para R$ 2 milhões o custo anual de cada um dos 81 senadores.
Cada deputado federal passou a custar R$ 1,4 milhão anuais para o contribuinte.
Mas este agrado ao próprio bolso, acertado com rapidez no final do ano passado,
acabou provocando um movimento que se espalha pelo País: a defesa de uma lei que
atrele o reajuste salarial dos parlamentares ao do salário mínimo e das
aposentadorias.

"O Congresso não tem ninguém do porte
de um Nelson Mandela, que baixou em
50% o valor de seus honorários”

No centro da articulação por esta nova lei está o bispo emérito de Limoeiro do
Norte, no Ceará, dom Manuel Edmilson da Cruz. Ele vem recebendo e-mails de todo
o País incentivando-o a assumir a liderança de uma campanha destinada a
controlar o apetite dos parlamentares. Dom Edmilson, aos 86 anos, foi o
responsável pela reação direta ao último aumento abusivo. Ele tinha sido
convidado ao Senado, em dezembro, para receber a comenda dos Direitos Humanos
Dom Helder Câmara, por sua luta em favor dos menos favorecidos do Nordeste. Da
própria tribuna do Senado, no entanto, recusou a condecoração e deu um sermão
nos parlamentares: “Isso (o aumento de 61%) é um atentado, uma afronta ao povo
brasileiro, ao cidadão, à cidadã contribuinte”, disse dom Edmilson. “A comenda
hoje outorgada não representa a pessoa do cearense maior que foi dom Helder
Câmara. Desfigura-a.” Com quase 50 anos como bispo e acostumado a enfrentar os
poderosos do Nordeste – inclusive criticando frente a frente generais que
pontificavam na época da ditadura militar –, ele afirma que o “representante do
povo” que votou a favor do aumento não é digno de tal função. “Isso não é um
parlamentar, é ‘para lamentar’.”

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