sábado, 1 de maio de 2010

O COMPLEXO DE JONAS

O profeta Jonas depois de ter recebido o chamado de Deus para se dirigir a grande cidade de Nínive, a fim de anunciar aos seus habitantes a penitência e a necessidade de uma sincera conversão, toma exatamente o caminho contrário, tentando se esquivar ou se afastar dos desígnios de Deus. A atitude do profeta, que se afasta de sua missão e da realidade desafiadora que o esperava, infelizmente, é símbolo da mentalidade de muitos leigos/as nos dias atuais. Como outrora, alguns de nós ainda não se conscientizaram de que o campo específico de atuação dos leigos é o mundo, as realidades temporais, principalmente aonde estão os que mais sofrem na sociedade, aonde a fraternidade e a dignidade humana se encontram ameaçadas de alguma forma. Lembremo-nos que Cristo só estará no meio do mundo se lá estivermos
O mundo, para alguns, é uma realidade de pecado e de completa ausência do sagrado, por isso, deve ser evitado a todo custo. Qual seria a solução para os que pensam assim? Isolar-se, não ter contato com determinadas reflexões sóciopolíticas que a Igreja faz constantemente, cultivar uma espiritualidade intimista e pessoal, desencarnada da vida. Nada mais equivocado do que pensar e agir assim. A espiritualidade cristã não pode estar divorciada das lutas populares, das decisões políticas que definirão os rumos de nossa história, dos sindicatos e organizações populares e da vida social como um todo. Tudo que diz respeito à vida humana, diz respeito à fé cristã. Será que precisamos passar por uma situação semelhante a do profeta Jonas (ser engolido por uma grande peixe), para assumirmos o nosso profetismo? O simbolismo do peixe nos remete a tudo aquilo que nos faz despertar para a missão e que produz em nós uma verdadeira mudança interior. A pergunta mais importante é: ESTAMOS ABERTOS A MUDANÇAS?
O papel do leigo não é ficar o dia todo na igreja, mas ser fermento nesses campos de vida e de atuação, ser "sal da terra e luz do mundo". Nesses ambientes deve se empenhar para a construção efetiva do Reino de Deus, "um reino eterno e universal, reino da verdade e da vida, reino da santidade e da graça, reino da justiça, do amor e da paz", como rezamos no prefácio da missa da festa de Cristo Rei.
O reino de Cristo cresce onde se manifesta a atitude de serviço, a doação generosa em prol dos irmãos, onde há o respeito pelos outros, onde se luta pela justiça e pela libertação. E tudo isso acontece de modo especial através da atuação dos cristãos leigos.
Quando os leigos assumem de fato sua missão específica, podemos sonhar com uma nova ordem social. O Concílio Vaticano II e os ensinamentos do papa insistem muito na necessidade de os leigos participarem ativamente na construção de uma nova sociedade, aperfeiçoando os bens criados e sanando os males. Felizmente, muitos têm entendido essa missão e se empenhado para bem cumpri-la.
Vemos com muita esperança o crescimento hoje da tomada de consciência por parte de muitos leigos que compreendem essa índole específica de sua missão. Acreditam nela e procuram exercê-la de modo digno e eficiente para que se faça cada vez mais concreta a promessa de Jesus: "O Reino de Deus está presente no meio de vós."
Não nos deixemos contaminar por esta visão deformada acerca da fé cristã, que pitorescamente denominei de "O Complexo de Jonas". Não fuja de Deus e da missão que lhe foi confiada. Jesus Cristo conta com você!!

CÉSAR AUGUSTO ROCHA