sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

DOM ERWIN KRAUTLER FAZ CRÍTICAS AO GOVERNO DE LULA E SE DIZ DECPCIONADO COM MARINA SILVA

Em uma entrevista arrasadora ao IHU On-line, a maior voz pública hoje na oposição à construção de Belo Monte, o bispo de Altamira no coração da Amazônia, Erwin Kräutler, não poupa críticas à pessoa de Lula, o seu governo e a Marina Silva por quem se diz profundamente decepcionado.
Sobre Lula afirma o bispo: "Será que Lula sonha com um Shangri-La tropical para esse povo que será atingido pela desgraça de Belo Monte, será que ele quer recuperar o paraíso perdido ou fazer emergir das águas represadas do Xingu uma Atlântida submersa. Déjà vu! Esse filme já conhecemos desde Itaipu, e ainda mais desde Tucuruí e a desastrosa Balbina! Quem dá a garantia para as promessas presidenciais se concretizarem? Quando o lago submergir um terço da cidade de Altamira, o presidente Lula e seu staff já obterão suas polpudas aposentadorias e irão lavar suas mãos, pois não terão que prestar homenagem ou satisfação a quem, naquela altura, governará o Brasil".
Para Dom Erwin, "a futura geração amazônica irá condenar ao inferno a quem causou toda essa desgraça e arrasou irreversivelmente essa região magnífica. Mas, o arrogante setor energético do Governo não se dispõe a ouvir o brado do povo. Dane-se quem for contra a hidrelétrica! Bem de acordo com aquele antigo provérbio árabe: Os cães ladram e a caravana passa!".
Em outro trecho da entrevista, o bispo, manifesta sua decepção com a candidata à presidente pelo PV: "Marina Silva me decepcionou. Jamais pensei que ela se submetesse tão tranquilamente aos ditames de sua candidatura à presidência da República. Nunca pensei que ela abrisse mão de sua convicção de defender o meio ambiente contra projetos insanos e imperdoavelmente omissos nos seus estudos de viabilidade. Marina fala como candidata do Partido Verde e, como tal, deveria exatamente assumir a defesa do "Verde das Florestas"! A afirmação "não há como fugir do aproveitamento energético do rio Xingu" é a mesma cantilena que estamos cansados de ouvir da boca dos intransigentes tecnocratas do Governo. Pior, ao repetir esse refrão, Marina capitula diante dos ideais que fizeram dela uma voz respeitada e uma referência em nível nacional e internacional em se tratar da defesa da Amazônia".
Conclui Dom Erwin: "Não é mais a Marina que eu conheci e hospedei em Altamira no dia em que mataram a Irmã Dorothy! Marina traiu sua missão de vanguarda dos povos da floresta. O que ela espera alcançar com essa mudança de seu visual? Alguns votos dos que até agora fizeram oposição à ela?", pergunta o bispo.
Belo Monte, tendo presente o debate em Copenhague, tornou-se um símbolo que por detrás de si formula e instiga o debate sobre o Brasil que queremos. A grande questão posta hoje é que tipo de crescimento econômico queremos. Por muito tempo, inclusive na esquerda, acreditou-se que o crescimento econômico seria a varinha de condão para a resolução de todos os problemas. Particularmente da pobreza. A equação é conhecida. O crescimento econômico produziria um círculo virtuoso: produção-emprego-consumo. Porém, o axioma de que apenas o crescimento econômico torna possível a justiça social não é verdadeiro. Será que o grande projeto brasileiro é transformar todos cidadãos em consumidores. E como fica o meio-ambiente? É preciso complexificar o debate.
O debate sugerido, a partir do princípio da ‘ecologia da ação’ - tantas vezes aqui destacado - recomenda que devemos construir uma sociedade que seja sustentável com a natureza, às necessidades humanas presentes e futuras, com uma ética solidária, definidas desde os setores populares, tendo como fim a construção de uma sociedade baseada em valores da solidariedade, liberdade, democracia, justiça e equidade.
Às vésperas do Natal, quando o Deus se encarna e assume a condição humana, é preciso recobrar a esperança no fermento, invisível aos olhos, mas potente em levedar a massa. Como dizia Albert Camus, a porta de saída está no muro.

FONTE: http://www.cebsuai.org/content/view/2454/73/